‘Salvação da lavoura’ foi empréstimo do governo, diz dona de rede de lavanderias no Rio


Empresária diz que faturamento voltou a subir, mas que não passa de 50% do registrado antes da pandemia. Após cerca de cinco meses faturando cerca de 30% do apurado antes da pandemia, a dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul do Rio de Janeiro diz que voltou a ver a demanda por seus serviços subir, elevando também, ainda que timidamente, a receita. Mas, o alívio nas contas e o ganho de fôlego do negócio só foi garantido após acesso à linha de crédito emergencial criada pelo governo federal para socorrer micro e pequenos empresários.
“Nós tivemos uma retomada [do faturamento], mas o que realmente nos salvou foi esse empréstimo do governo que ajudou a gente a se reestruturar em relação às despesas que estavam paradas”, disse a empresária Cláudia Mendes.
Entrevista com Claudia Mendes
O G1 está acompanhando as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise provocada pela pandemia do coronavírus e pelo fechamento dos negócios necessário para conter a disseminação da doença. Veja aqui o que os mesmos empresários contaram em abril; o que disseram em maio; em julho; e os novos depoimentos este mês:
Expectativas, demissões, crédito, faturamento baixo e portas fechadas: como estão os empresários cinco meses após o início da pandemia
Younes Bari: ‘Tivemos que demitir parte dos funcionários’
Irenildo Queiroz: Ano foi ‘um desastre’ para os negócios
Bruno Bernardo: ‘Estamos com esperança de dias melhores’
Pedro Roxo: ‘Chegamos no limite do nosso planejamento e tivemos que fechar a empresa’
O crédito a que Cláudia teve acesso veio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Em julho, ela já havia conseguido R$ 75 mil de empréstimo, relativo ao CNPJ de uma das lojas, embora tivesse direito a cerca de R$ 300 mil, o que a deixou frustrada. Depois, conseguiu novo empréstimo do mesmo valor, para o CNPJ de outra loja, totalizando R$ 150 mil.
“Foi a salvação da lavoura. Com esse dinheiro conseguimos nos rearrumar, reestruturar nossas contas”, enfatizou a empresária.
Criado em maio por meio da Lei Federal 13.999, o Pronampe começou a ser liberado somente em junho para as micro e pequenas empresas.
Além de quitar as contas em atraso, Claudia pôde investir na compra de um veículo elétrico para reforçar o serviço delivery, que tem sustentado em cerca de 80% o faturamento da rede de lavanderias.
A opção de coleta e entrega das roupas em domicílio já era oferecida antes, mas passou a ser o foco principal das três lojas após a pandemia. “Não cobramos pelo delivery como forma de atrair mais clientes”, enfatizou.
Fachada de uma das três lojas da rede de lavanderias Laundry Express, em Copacabana, da empresária Cládia Medeiros Mendes
Daniel Silveira/G1
Melhora tímida
O G1 acompanha a rede de lavanderias de Cláudia desde março, quando foi decretada a pandemia do coronavírus com as consequentes medidas de isolamento para conter a disseminação do vírus. Por ser considerado um serviço essencial, as lavanderias puderam se manter funcionando. Todavia, o faturamento da rede caiu em cerca de 70%.
“No segundo trimestre [com a retomada do comércio], nós percebemos um aumento de pessoas bem tímido nas ruas. Nós começamos a ter algumas pessoas de atendimento presencial, mas continuou majoritariamente no delivery”, contou Cláudia.
Diante disso, ela viu o faturamento de uma das lojas subir para, aproximadamente, 60% do registrado antes da pandemia. Nas outras duas lojas o aumento da receita foi ainda mais tímido, girando entre 40% e 50% do que era.
Com a melhora do caixa, a empresária pôde retirar pró-labore [retirada mensal de recursos que os sócios fazem de um negócio], pela primeira vez desde março. “Tirei apenas uma parte para poder quitar as minhas contas pessoais que estavam todas atrasadas”, reforçou.
Funcionários mantidos, mas ainda sob ameaça
Com a melhora do faturamento e o aumento da demanda pelos serviços, Cláudia cancelou a suspensão do contrato de um dos seis funcionários que estavam nessa condição. Dois funcionários continuam com horário reduzido, enquanto outros 11 trabalham com a jornada integral.
A empresária ressalta que não pretende cortar pessoal, mas teme não poder sustentar todos os 18 funcionários por muito tempo sem o faturamento voltar aos patamares de antes. “Nós nem temos serviço para todo mundo”, destacou.
A empresária Cláudia Medeiros Mendes, dona de uma rede de lavanderias em Copacabana, Zona Sul do Rio, disse nunca ter enfrentado crise tão severa em 30 anos de negócio
Daniel Silveira/G1
‘Expectativa bem baixa’
A leve melhora nos negócios não foi suficiente para deixar Cláudia otimista por melhora efetiva do caixa no curto e médio prazo.
“A minha expectativa está bem baixa em relação a melhora, principalmente porque nós dependemos muito do turismo e o turismo é uma coisa que não vai ser retomada tão cedo”, avaliou.
A empresária ressaltou que o segmento de lavanderias é totalmente dependente da atividade econômica como um todo, e que os efeitos da crise provocada pela pandemia restringem ainda mais suas perspectivas de retomada efetiva.
“O nosso ramo depende da economia funcionando. Eu preciso que as pessoas estejam saindo de casa para trabalhar, que os hotéis recebam turistas. Nós tínhamos clientes de restaurantes para os quais lavávamos as toalhas e que não têm mais toalhas de pano, porque tem que ser tudo descartável”, lamentou.
Novamente questionada sobre qual a perspectiva para o resultado financeiro da rede de lavanderias no fechamento do ano, Cláudia reiterou não considerar a possibilidade de ter lucro e pensar apenas na sobrevivência do negócio. “Continuamos apenas pagando as contas”, disse.
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By Fred Souza

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