Deputado Douglas Garcia diz em processo que Eduardo Bolsonaro enviou dossiê com dados de antifascistas à embaixada dos EUA


Informação foi dita por advogada do deputado estadual de SP no processo do caso em que Garcia foi condenado a indenizar mulher exposta no documento. ‘Querem criar intriga entre nós’, escreveu Eduardo Bolsonaro nas redes sociais, após divulgação da informação. O deputado estadual Douglas Garcia (PSL) exibe em live o dossiê em que reuniu dados pessoais de opositores antifascistas
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O deputado estadual Douglas Garcia (PTB) disse em um processo na Justiça de São Paulo que não foi ele quem enviou à embaixada dos Estados Unidos no Brasil uma cópia do dossiê com dados pessoais de opositores do governo federal que participam de um movimento chamado “antifascista”, mas sim, que a versão foi entregue às autoridades norte-americanas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
A informação foi dita pela advogada de Garcia, Maria Laura Milhomens Lopes, ao juiz Guilherme Ferreira da Cruz, titular da 45ª Vara Cível da capital, em um processo em São Paulo em que o parlamentar foi condenado a pagar R$ 20 mil de indenização a uma mulher que teve os dados expostos no dossiê.
Anteriormente, em junho, quando divulgou a existência do dossiê antifascista, Douglas Garcia havia postado no Twitter e em outras redes sociais que ele próprio havia enviado o documento à embaixada dos EUA e a outras autoridades, como a Polícia Federal.
O documento, com cerca de mil nomes com fotos, números de telefone e endereços gerou a abertura de ao menos duas representações no Ministério Público de São Paulo (MP) contra o deputado estadual Douglas Garcia, acusado por parlamentares do Psol e pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe) de ter compilado e vazado o documento.
Ao ser questionado no processo sobre o número e data da realização do protocolo do documento junto à embaixada norte-americana, a defesa de Douglas Garcia disse que não tinha os dados.
“O requerido (Douglas Garcia) nunca fez nenhum protocolo na Procuradoria-Geral da República. E o protocolo junto à Embaixada dos Estados Unidos foi feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, motivo pelo qual não possui comprovantes, devendo ser oficiado seu gabinete para que encaminhe”, escreveu a advogada Maria Laura ao apresentar a defesa de Garcia.
Nas redes sociais, nesta segunda-feira (10), Douglas Garcia disse que a notícia sobre sua posição no processo, relacionando Eduardo Bolsonaro ao dossiê, é “velha e requentada” e que já havia divulgado o trabalho conjunto com o filho do presidente da República no caso.
Douglas Garcia diz, nas redes sociais, que já havia divulgado trabalho conjunto com Eduardo Bolsonaro sobre o dossiê
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O próprio Eduardo Bolsonaro respondeu à postagem de Douglas Garcia sobre a relação dos dois, dizendo que apoia o trabalho de Garcia e do deputado Gil Diniz na Assembleia Legislativa de São Paulo.
“Querem criar intriga entre nós”, escreveu Bolsonaro sobre o fato após a divulgação da informação.
O G1 questionou a assessoria do deputado Eduardo Bolsonaro e a embaixada dos EUA em Brasília se gostariam de comentar o fato e, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno.
Deputado Douglas Garcia é condenado por dossiê
O processo em SP
No processo em SP em que se manifestou sobre o dossiê, Douglas Garcia foi condenado, em primeira instância, a pagar R$ 20 mil de indenização a uma mulher que teve os dados pessoais envolvidos. Na decisão, o juiz afirmou que deputado “sem nenhuma prova objetiva e segura, expôs a autora”, e violou sua intimidade com a divulgação de sua foto e número de celular.
O juiz questionou ainda a elaboração do documento. “Referidas condutas, notadamente a elaboração de dossiês, não se relacionam com o exercício normal e regular do mandato legislativo, cujo titular deve se mostrar à sociedade (em especial àqueles que o elegeram) prudente e equilibrado”.
O deputado estadual Douglas Garcia, exibe em live o dossiê em que reuniu dados pessoais de opositores antifascistas.
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Douglas Garcia sempre confirmou ter montado o dossiê contra opositores, mas nega que tenha divulgado as informações. Segundo ele, o material foi entregue à polícia, mas a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirma que não recebeu o documento.
O suposto dossiê circulou por redes sociais com dados pessoais de pessoas comuns, que relataram ao G1 o medo de serem perseguidas por grupos neonazistas, após terem tido informações como endereço, telefone, número de documentos, placa de carro e local de trabalho incluídas no documento.
Em outra decisão do TJ-SP, esta de julho, a Justiça determinou que Douglas entregasse informações sobre o dossiê.
Em junho, Douglas se envolveu em outra polêmica. A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo suspendeu por 12 meses os deputados Douglas Garcia e também Gil Diniz, por um pedido do PSL (antigo partido do deputado, de onde foi expulso) feito à presidência da Casa.
Segundo o partido, a iniciativa foi motivada pelo envolvimento dos dois parlamentares na disseminação de fake news e de ataques a instituições pilares da democracia. Tanto Garcia quanto Diniz são investigados em inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, que teve mandados de busca no dia 27 de maio. O afastamento dos deputados não implica em perda de mandato.
Deputado Douglas Garcia nega vazamento de dados pessoais de ativistas

By Fred Souza

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