Ano foi ‘um desastre’ para os negócios, diz dono de bar no Rio, que teme fechar em definitivo


Depois de 100 dias fechado devido à pandemia, bar retomou funcionamento faturando cerca de 10% do habitual. “Um desastre total”. É assim que o empresário Irenildo Queiroz avalia o desempenho de seu negócio desde a segunda quinzena de março deste ano. Ele é dono de um bar e restaurante em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, que ficou mais de 100 dias fechado devido à pandemia do coronavírus e cujo faturamento, após a reabertura, não passa de 10% do registrado antes da crise.
Sem dinheiro em caixa e à espera de crédito emergencial, o empresário, conhecido pelo apelido Bigode, que dá nome ao bar, teme pelo pior: fechar as portas em definitivo.
“Está muito difícil, muito complicado. O movimento é muito devagar. Não está chegando a 10% do que a gente vendia numa normalidade. Gente com mais nome que eu no mercado já quebrou. Até o final do mês, vou ter que tomar uma decisão”, disse.
Entrevista com Irenildo Queiroz
O G1 está acompanhando as histórias de empreendedores que estão tentando sobreviver à crise provocada pela pandemia do coronavírus e pelo fechamento dos negócios necessário para conter a disseminação da doença. Veja aqui o que os mesmos empresários contaram em abril; o que disseram em maio; em julho; e os novos depoimentos este mês:
Expectativas, demissões, crédito, faturamento baixo e portas fechadas: como estão os empresários cinco meses após o início da pandemia
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Bruno Bernardo: ‘Estamos com esperança de dias melhores’
Pedro Roxo: ‘Chegamos no limite do nosso planejamento e tivemos que fechar a empresa’
Claudia Mendes: ‘Salvação da lavoura’ foi empréstimo do governo
Bar do Bigode, que ficava lotado durante o almoço antes da pandemia, agora amarga sumiço dos clientes
Daniel Silveira/G1
O Bar do Bigode é rodeado por empresas e universidades, em uma das principais áreas comerciais da capital fluminense. Ele fechou as portas no dia 24 de março, após os governos municipal e estadual determinarem a paralisação de bares e restaurantes na cidade. A reabertura aconteceu no dia 3 de julho, mas a clientela não reapareceu.
“As universidades não voltaram e as empresas todas no entorno da gente estão em home office. Então, está muito, muito difícil de suportar”, apontou.
O G1 acompanha a situação do Bar do Bigode desde 16 de março, dia em que foi decretado estado de emergência no estado do Rio de Janeiro em função da pandemia. Desde aquele momento, o empresário se dizia preocupado em poder manter os dez funcionários, que se revezavam em dois turnos – diurno e noturno.
Empregos preservados, mas estabilidade preocupa
Os dez empregos foram preservados, até agora, por meio da suspensão do contrato de trabalho viabilizada pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo governo federal.
Com essa medida, o empresário paga 30% do salário devido a cada empregado, enquanto o governo completa o pagamento dos outros 70%. A contrapartida é dar estabilidade do emprego aos dez funcionários pelo prazo igual ao período em que os contratos estiveram suspensos.
“Como é que eu vou manter esses dez funcionários sem vender nada? O delivery está muito devagar, não vendo nem cinco quentinhas por dia. E o movimento no balcão é muito pequeno, porque está tudo fechado no nosso entorno”, lamentou.
Com os funcionários afastados, Bigode decidiu abrir o bar somente para o almoço e conta com a ajuda da família para tocar o negócio. “Eu estou atendendo as mesas, minha mulher está tomando conta do caixa e um parente meu está na cozinha”, contou.
Além das obrigações trabalhistas, Bigode precisa arcar com os custos operacionais do bar – água, luz, gás, insumos – e, principalmente, com os aluguéis das quatro lojas que o bar ocupa – três de um mesmo proprietário.
“A minha maior preocupação agora é esse aluguel que é, de longe, nosso maior custo. São R$ 16 mil por mês e estou devendo três meses. Com o proprietário de três lojas, consegui 50% de desconto. Os proprietários da quarta loja não quiseram negociar, apenas me permitiram parcelar cada aluguel em três vezes”, ressaltou.
Em junho, quando a reabertura do comércio no Rio ainda era discutida pelas autoridades, o empresário se dizia “sem perspectiva nenhuma”. Em julho, porém, o empresário contou com um presente inesperado: R$ 12 mil doados por clientes que se sensibilizaram com a situação do bar após reportagem do G1. O montante permitiu a Bigode quitar parte das contas em atraso e se entusiasmar com a possibilidade de retomada.
Após reportagem do G1, clientes do Bar do Bigode se mobilizaram para socorrer financeiramente o empresário
Reprodução
Crédito para quem?
Em agosto, porém, sem novo auxílio financeiro, o empresário se diz “absolutamente sem saber o que fazer”. Sua única aposta é ter acesso ao crédito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que está em análise desde o começo do mês.
“Se o governo liberou o recurso, por que esse dinheiro não chega na nossa mão? Por que tanta demora?”, questionou o empresário.
Criado em maio por meio da Lei Federal 13.999, o Pronampe começou a ser liberado somente em junho para as micro e pequenas empresas. Na primeira semana de julho, tanto a Caixa Econômica Federal (CEF) quanto o Banco do Brasil (BB) atingiram o limite de contratações do programa. Diante disso, o governo liberou mais recursos e prorrogou por mais três meses o prazo para formalização das operações.
“Tendo esse auxílio do governo, eu consigo levar minha empresa até o final do ano. Aos trancos e barrancos, mas eu vou conseguir. Mas, se eu não conseguir isso, sinceramente, eu sei como vou fazer”, enfatizou Bigode.
Em julho, o empresário disse que precisaria de cerca de R$ 500 mil para conseguir manter o negócio. Um comunicado da Receita Federal, no entanto, informou que ele poderia contratar, no máximo, R$ 200 mil via Pronampe. “Mesmo com esse valor eu consigo suportar até o fim do ano”, avaliou.
‘Sobreviver. A palavra é essa’
Bigode afirma não vislumbrar lucro em 2020. O empréstimo via Pronampe irá garantir a ele fluxo de caixa até o fim do ano, mas ele já dá como improvável não fechar o ano no vermelho – e com dívidas altas para o ano seguinte.
As incertezas sobre o futuro também são motivo de preocupação para o empresário. Além do empréstimo, ele diz contar com a liberação de uma vacina contra o coronavírus, que pode vir a garantir o retorno dos clientes ao bar. Sobrevivência – da família, dele e de seu negócio – é o único objetivo no momento.
“As minhas perspectivas para manter o bar, hoje, é sair esse auxílio que a gente está aguardando do Pronampe para ver se a gente dá uma respirada até o final do ano. Também estou confiante que essa vacina saia e as empresas voltem devagar, as aulas retornem um pouquinho, para que a gente tenha um movimento razoável e possa sobreviver. Sobreviver, a palavra é essa”, enfatizou.
Em outubro, o Bar do Bigode completa 15 anos de inauguração. “Espero que possamos ter o que comemorar”, completou.
Irenildo Queiroz, o Bigode, mantém um bar e restaurante em Botafogo, na Zona Sul do Rio, há 14 anos
Daniel Silveira/G1
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By Fred Souza

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