Audiência virtual será na próxima semana, diz líder do governo no Senado. Documento diz que médicos são obrigados a informar polícia sobre aborto em caso de estupro, autorizado por lei. O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, deve se reunir com senadores na próxima semana para prestar esclarecimentos sobre a portaria do ministério, publicada na última semana, com novas regras para o aborto autorizado por lei.
A reunião foi anunciada pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), e deve acontecer por videoconferência no próximo dia 9. Na Câmara e no Senado, parlamentares já apresentaram projetos para sustar a validade das novas regras.
A portaria do governo, publicada no “Diário Oficial da União” no último dia 28, diz que a equipe médica é obrigada a notificar à polícia os casos de acolhimento de pacientes quando houver indícios ou confirmação de crime de estupro.
A portaria também prevê que a equipe médica ofereça à vítima de estupro a visualização do feto ou do embrião por meio de ultrassonografia.
Senado e Câmara discutem propostas para derrubar a portaria do governo sobre aborto
Portaria dificulta acesso ao aborto legal, dizem especialistas
Nesta terça, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamou a portaria de “ilegal” e “absurda”, e afirmou que busca apoio entre os deputados para derrubar o texto do Ministério da Saúde. Maia também levantou a possibilidade de o tema ser levado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Especialistas avaliam que a medida do Ministério da Saúde é mais um instrumento constrangimento e de intimidação da vítima de violência sexual.
Assinada por Pazuello, a medida foi tomada em meio à repercussão do caso da menina de 10 anos, moradora do interior do Espírito Santo, que engravidou depois de ser estuprada pelo próprio tio.
O assunto foi debatido durante reunião de líderes partidários no Senado realizada por videoconferência na manhã desta terça-feira.
Segundo Bezerra, o tema foi levantado pelo líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE) e o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), solicitou ao líder do governo que intermediasse a realização da audiência.
“O ministro Pazuello me pede para informar que ele fará essa videoconferência através de Zoom na próxima quarta-feira, 9/9, às 14h30 […]. O ministro Pazuello participará para trazer os esclarecimentos necessários para, ou a eventual revogação da portaria, ou ajustes na portaria que possam atender às preocupações expostas [na reunião]”, afirmou Bezerra.
A portaria
Portaria obriga médicos a comunicar à polícia todos os casos de aborto por estupro
A interrupção da gravidez de vítima de estupro é permitida por lei. A portaria do governo, publicada no “Diário Oficial da União” na semana passada, diz que a equipe médica é obrigada a notificar à polícia os casos de acolhimento de pacientes quando houver indícios ou confirmação de crime de estupro.
Portaria de 2005 dizia que o Procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez era condição necessária para a adoção de qualquer medida de interrupção da gravidez no SUS, exceto nos casos que envolvessem “riscos de morte à mulher”.
A portaria publicada na semana passada também prevê que a equipe médica ofereça à vítima de estupro a visualização do feto ou do embrião por meio de ultrassonografia.
Assinada pelo ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, a medida foi tomada em meio à repercussão do caso da menina de 10 anos, moradora do interior do Espírito Santo, que engravidou depois de ser estuprada pelo próprio tio.
Ex-ministro da Saúde, o senador Humberto Costa (PT-PE) é autor de uma das propostas que querem tornar a portaria do governo “sem efeito”. Para ele, o texto assinado por Pazuello é um “retrocesso”.
O petista sustenta que a portaria de 2005 já previa o procedimento de justificação e autorização para a interrupção, mas não se aplicava nos casos de risco à vida da vítima.
“Muitas vezes essa decisão [de realização do aborto] é tomada num centro cirúrgico rapidamente, não havendo tempo de consultar os envolvidos. A nova portaria exige o referido procedimento em todos os casos de aborto legal”, afirma o petista na justificativa da proposta.
O que diz o governo
Em nota divulgada na semana passada, o Ministério da Saúde afirmou que as mudanças foram necessárias porque as regras vigentes estavam em desconformidade com a legislação.
Ainda segundo a pasta, um decreto da década de 1940 enquadra como contravenção a conduta de um profissional de saúde da administração pública que não comunicar crimes, como o estupro, à autoridade competente.