Juíza cita raça ao condenar réu negro por organização criminosa


Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal de Curitiba, afirmou na decisão que ‘seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta’. Bom Dia Brasil: ‘Em razão da sua raça’, diz juíza em sentença sobre homem negro
A juíza Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal de Curitiba, mencionou a raça de um réu em uma sentença em que condena um homem por organização criminosa. Segundo a defesa do condenado, o réu é negro.
“Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente”, disse a magistrada.
A decisão em primeira instância da magistrada condenou Natan Vieira da Paz, de 42 anos, a 14 anos e dois meses de prisão por organização criminosa e por roubos no centro da cidade.
A sentença foi publicada em junho, mas a defesa do condenado foi notificada da decisão na terça-feira (11).
O trecho que menciona a raça de Natan aparece três vezes no documento no momento em que a magistrada aplica a dosimetria da pena.
Juíza escreveu que réu era integrante de grupo criminoso por causa da sua raça, em Curitiba
Reprodução/TV Globo
Apenas pelo crime de organização criminosa, o homem foi condenado a três anos e sete meses de prisão e, segundo o texto, a pena foi elevada por causa da “conduta social” do réu.
No mesmo documento, a juíza escreveu que Natan é réu primário e que “nada se sabe” da sua “conduta social”.
Além dele, outras seis pessoas foram condenadas pelos mesmos crimes pela juíza.
O G1 tenta contato com Inês Marchalek Zarpelon.
O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) informou que tomou conhecimento do caso e que vai encaminhá-lo para apuração da Corregedoria. O TJ afirmou que Inês Marchalek Zarpelon deve ser chamada para prestar esclarecimentos neste procedimento.
Defesa diz que vai recorrer
A advogada Thayse Pozzobon, que defende Natan, afirmou que abriu uma representação na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e que vai recorrer da decisão.
“A raça dele não pode, de maneira alguma, ser relacionada com os fatos que ele supostamente praticou”, afirmou a advogada.
No texto da sentença em que cita os dados pessoais e a identificação dos réus, o apelido de Natan é descrito como “Neguinho”.
“Essa referência dele aparece mais de uma vez na sentença. Isso revela o olhar parcial da juíza, e um magistrado tem o dever da imparcialidade”, afirmou.
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By Fred Souza

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