‘É importante buscar várias fontes de informação’, diz diretor da OMS sobre forma como governo Bolsonaro trata da Covid-19


‘Se as comunidades perceberem que estão obtendo informações politicamente manipuladas ou gerenciadas de forma que distorce evidências, isso volta ao governo politicamente em um estágio posterior’, opinou o diretor de emergências da OMS, Mike Ryan. Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Christopher Black/OMS
Respondendo a pergunta do G1 sobre as mensagens enviadas pelo governo brasileiro à população durante a pandemia do novo coronavírus, o diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Mike Ryan, disse que “é importante que as pessoas busquem várias fontes de informação”.
O presidente Jair Bolsonaro foi visto sem máscara em público em diversas ocasiões nos últimos meses, inclusive durante a cerimônia pelo Dia da Independência, nesta segunda, em Brasília.
“Os cidadãos no Brasil e em muitos países podem olhar e buscar informações em várias fontes, e, certamente, acho bom estar em uma posição em que você pode ter uma confiança absoluta em qualquer governo, mas também é importante que as pessoas busquem várias fontes de informação”, respondeu o diretor de emergências da OMS, Mike Ryan.
O presidente Jair Bolsonaro interage com admiradores durante cerimônia no Palácio da Alvorada, em Brasília, neste feriado de 7 de setembro
Alan Santos/PR
“Os governadores estaduais e as autoridades estaduais de saúde pública têm estado muito envolvidos em oferecer aconselhamento e apoio às comunidades. Aí você tem o governo nacional, a Opas [Organização Pan-Americana de Saúde, braço regional da OMS nas Américas] e nós mesmos [a OMS]”, declarou Ryan.
“Os bons governos constroem a confiança das comunidades fornecendo-lhes apenas informações verificadas e baseadas em evidências. Porque, se as coisas derem errado, as comunidades vão entender”, afirmou o diretor de emergências.
Próxima epidemia ‘já está a caminho’, alerta médico sobre desmatamento na Amazônia
“Mas, se as comunidades perceberem que estão obtendo informações que estão sendo politicamente manipuladas, ou que estão sendo gerenciadas de uma forma que distorce as evidências, então, infelizmente, isso volta ao governo politicamente em um estágio posterior”, completou Ryan.
Brasil termina agosto com 28.947 mortes pela Covid-19, apontam secretarias de Saúde; especialistas alertam que pandemia não acabou
A OMS já havia se manifestado sobre alguns posicionamentos do governo brasileiro. Na sexta (4), a entidade lembrou que “vacinas salvam vidas” ao ser questionada sobre uma publicação da Secretaria de Comunicação da Presidência que dizia não poder “obrigar ninguém” a tomar vacina (veja vídeo).
É #FAKE que governo não pode obrigar pessoas a se vacinar contra Covid-19
Bolsonaro diz que ‘ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina’; especialistas criticam
Em maio, a organização frisou a necessidade de uma mensagem “coerente” no combate à pandemia entre os governos estaduais e federal. A declaração foi dada também por Michael Ryan, depois que a OMS foi questionada sobre a reabertura de alguns locais de comércio no país, como academias e salões de beleza.
“As comunidades precisam ouvir mensagens coerentes e consistentes de lideranças, essa mensagem precisa ser clara e governos precisam seguir o que falam”, afirmou Ryan.
Outras pandemias
Na mesma entrevista coletiva desta segunda, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que a pandemia de Covid-19 “não será a última” a ser enfrentada pela humanidade.
“Esta não será a última pandemia. A história nos ensina que surtos e pandemias são um fato da vida. Mas, quando a próxima pandemia vier, o mundo deve estar pronto – mais do que estava desta vez”, alertou Tedros.
Ele também chamou atenção para o fato de que os países precisarão preparar melhor seus sistemas de saúde.
“Nos últimos anos, muitos países fizeram enormes avanços na medicina, mas muitos negligenciaram seus sistemas básicos de saúde pública, que são a base para responder aos surtos de doenças infecciosas”, afirmou Tedros.
“Parte do compromisso de cada país para se reconstruir melhor deve ser, portanto, investir na saúde pública, como um investimento em um futuro mais saudável e seguro”, disse o diretor-geral.

By Fred Souza

Veja Também