Crimes ambientais geram campanhas difamatórias e barreiras comerciais, diz Mourão

Vice-presidente disse que as irregularidades tornam o país vulnerável a campanhas difamatórias. Governo tem sido pressionado a mudar políticas ambientais. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta segunda-feira (10) que crimes ambientais deixam o Brasil “vulnerável a campanhas difamatórias” que abrem espaço para barreiras comerciais “injustificáveis” contra o agronegócio do país.
Mourão deu a declaração durante uma videoconferência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para discutir a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.
O vice-presidente comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal. Desde maio, o órgão coordena, por meio da Operação Verde Brasil 2, a atuação das Forças Armadas no combate a crimes ambientais, como queimadas e desmatamento.
Mourão declarou que o Brasil é “uma potência agroambiental” e que o sucesso das exportações está na confiança dos mercados internacionais nos “elevados padrões socioambientais” do agronegócio. Por isso, diz, a importância de combater crimes ambientais.
“Como se não bastasse o prejuízo ao patrimônio brasileiro, os crimes ambientais deixam nosso país vulnerável a campanhas difamatórias, abrindo caminho para que interesses protecionistas levantem barreiras comerciais injustificáveis contra as exportações do agronegócio”, disse o vice-presidente.
O governo do presidente Jair Bolsonaro tem recebido cobranças de investidores nacionais e estrangeiros por mudanças na política ambiental. Mourão já realizou conversas com empresários e investidores para tentar conter o desagaste da imagem do país.
Hamilton Mourão faz encontro com investidores e promete ações de preservação na Amazônia
Em julho, um estudo divulgado pela revista Science afirmou que até 22% da soja e pelo menos 17% da carne bovina produzidas na Amazônia e no Cerrado e exportadas para a União Europeia podem ter rastros de desmatamento ilegal.
Fiscalização
Mourão voltou a defender a recomposição dos quadros de servidores de órgãos de fiscalização e declarou que o poder público tenta punir com rigor quem comete ilícitos ambientais. Se necessário, afirmou, há planejamento para manter a operação de garantia da lei e da ordem (GLO) na Amazônia até o final de 2022.
Na semana passada, o Ministério da Defesa suspendeu e retomou no dia seguinte ações de combate a crimes ambientais na terra indígena Munduruku, no Pará.
A interrupção foi anunciada na quinta (6), um dia após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter visitado a região e ter sido alvo de protestos. O grupo que fez o ato chegou a impedir a decolagem de um avião e um helicóptero.
‘Vilão’ ambiental
Mais tarde, Mourão foi questionado sobre exemplos de campanhas difamatórias. Sem citar nomes de empresas, instituições ou países, o vice-presidente citou que o Brasil sofre pressões de pessoas “bem intencionadas” e preocupadas com a preservação, mas também de quem tem interesses “econômico-comerciais” no agronegócio.
O vice-presidente reconheceu haver erros no Brasil, mas disse que não aceita ser considerado um “vilão” na área ambiental, já que outros países também cometem erros.
“A gente tem que fazer a nossa parte, mas também não pode aceitar ser qualificado como vilão em um mundo onde grande parte do hemisfério norte queima petróleo e carvão e quer nos culpar pela poluição atmosférica. Não é assim que funciona. Temos erros? Temos. Mas os outros também têm”, afirmou.
Guedes
Na semana passada, Mourão defendeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, que em uma videoconferência promovida por um instituto de Chicago (EUA), pediu aos estrangeiros que sejam “gentis” com o Brasil porque eles “destruíram” as próprias florestas.
O vice-presidente declarou que a frase não atrapalhava o esforço do governo para melhorar a imagem do país perante investidores. Para Mourão, o Brasil sofre pressão de países que “não fizeram o trabalho” de preservação das próprias florestas.
Desmatamento
Mourão afirmou na videoconferência que o governo federal não esconde informações sobre desmatamento, divulgadas pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), porém não aceitas narrativas simplistas.
“Não negamos, nem escondemos informação sobre a gravidade da situação, mas também não aceitamos narrativas simplistas e enviesadas”, afirmou, sem citar exemplos.
Segundo o Inpe, os alertas na Amazônia aumentaram 34,5% no período de um ano. Os dados comparativos entre julho de 2020 e julho de 2020 mostram redução nos alertas.
“Os números ainda são preliminares e insuficientes, mas sinalizam para uma importante reversão de tendência, fruto da ampliação das ações de comando e controle”, declarou Mourão ao se referir aos dados de julho.
Alertas de desmatamento na Amazônia sobem 34% em um ano

By Fred Souza

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