Bolsonaro contraria ciência e diz a apoiadores que eficácia de máscara é ‘quase nenhuma’


OMS reconhece estudos sobre eficácia do uso de máscaras há pelo menos três meses. Proteção ajuda a evitar que infectados propaguem o vírus e que pessoas saudáveis se contaminem. O presidente Jair Bolsonaro usa máscara durante cerimônia nesta quarta (19) em Brasília
Adriano Machado/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro fez críticas nesta quarta-feira (19) ao uso de máscaras como forma de evitar a disseminação do novo coronavírus. Segundo o presidente, a eficácia da máscara é “quase nenhuma”.
A declaração foi dada no início da noite a apoiadores que aguardavam o presidente na porta da residência oficial do Palácio da Alvorada. Nesta quarta-feira, o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro ao uso obrigatório da máscara obrigatório em áreas públicas em todo o território nacional (leia mais abaixo).
No encontro com os apoiadores, por duas vezes, o presidente da República negou a eficácia da máscara, sem apresentar qualquer evidência.
O equipamento de proteção, assim como o uso do álcool e gel e o distanciamento social, reúne consenso da comunidade científica internacional. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda essas medidas para frear o espalhamento da Covid-19.
O diálogo envolveu dois apoiadores, e começou porque uma mulher disse que preferia fazer foto com Bolsonaro em outra oportunidade, quando a máscara não fosse mais necessária. Nesse momento, o presidente usava máscara.
“Foto, só quando não precisar de máscara, viu? Eu espero”, disse a apoiadora.
“Tem algum médico aí? Eficácia dessa máscara é quase nenhuma”, respondeu Bolsonaro.
“Não, eu espero o dia que a gente não usar mais”, comentoua mulher.
“Acho que não tem que ter máscara nenhuma, tem nada ver”, afirmou outro apoiador.
Daí, Bolsonaro repetiu: “Eficácia da máscara é quase nenhuma.”
Congresso derruba o veto do presidente Bolsonaro ao uso obrigatório de máscara
Bolsonaro contra a máscara
Em julho, Jair Bolsonaro chegou a vetar trechos de um projeto aprovado pelo Congresso Nacional que tornava o uso da máscara obrigatório em áreas públicas, em todo o território nacional.
Bolsonaro decidiu retirar, do texto, os trechos que falavam do uso em escolas, comércios, templos religiosos e outros locais que geram aglomeração.
O veto foi derrubado pelo Congresso nesta quarta-feira e, com isso, as regras serão promulgadas e entrarão em vigor.
Além das regras gerais, o governo federal acionou a Justiça para que o próprio presidente não fosse obrigado a usar máscara.
A Advocacia-Geral da União (AGU) obteve decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região para derrubar sentença anterior que obrigava Jair Bolsonaro a usar o equipamento em locais públicos.
Mesmo enquanto estava com a Covid-19 – um diagnóstico anunciado por Bolsonaro em redes sociais –, o presidente foi visto pilotando uma moto e conversando com garis, sem máscara, na área aberta do Palácio da Alvorada.
Bolsonaro veta uso obrigatório de máscara no comércio e em templos
O que diz a ciência?
Desde o início da pandemia, autoridades científicas em todo o mundo revisaram diversas vezes as recomendações para o enfrentamento do novo coronavírus. As mudanças refletem as conclusões de novos estudos e a comparação de evidências que são coletadas conforme a pandemia avança.
Até junho, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmava não haver evidências sobre o uso de máscaras por pessoas saudáveis. A prioridade era dada ao uso por profissionais de saúde e pacientes com o vírus.
Naquele mês, a orientação mudou e o uso passou a ser encorajado, ainda que a máscara, sozinha, não seja suficiente para blindar pessoas saudáveis.
Desde então, o uso de máscaras segue recomendado por autoridades sanitárias em todo o mundo. Se utilizada de forma correta, a máscara evita que pessoas doentes projetem o vírus em secreções, e que pessoas saudáveis absorvam o vírus projetado no ar pela boca ou pelo nariz.
Na última semana, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pelos médicos Monica Gandhi e Eric Goosby, da Universidade da Califórnia, e pelo pesquisador Chris Beyrer, da Universidade Johns Hopkins, apontou que as máscaras também reduzem a carga viral à qual estamos expostos.
Se infectados, o estudo diz que a manifestação da doença pode ser mais branda ou mesmo assintomática, graças ao uso dos equipamentos. O estudo foi publicado no “Journal of General Internal Medicine”.

By Fred Souza

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