Sem eventos por causa da pandemia, produtores de flores reclamam de crise no setor


O Paraná responde por apenas 5% da produção nacional de flores e plantas ornamentais. É um estado que mais consome do que produz. Bloco 01 Caminhos do Campo (20 09 2020)
A primavera começa na terça-feira (22), e o Caminhos do Campo antecipa a estação mais florida, com foco no que o setor da jardinagem, um dos mais afetados durante a pandemia, está fazendo para sair da crise.
No norte do estado, em Marialva, capital das rosas, tem produtor trabalhando de empregado para outros agricultores para pagar as contas. Nos Campos Gerais, no maior viveiro de bonsais da América do Sul, as vendas dispararam. Qual será a explicação para uma produção maior do que até mesmo antes da pandemia?
Outro negócio que também vai muito bem atualmente é o das suculentas. Ainda vamos mostrar que flor também tem sabor, vamos ensinar a receita de um bolo coberto e recheado com pétalas de rosas. É o Caminhos do Campo dando as boas-vindas à primavera.
O Paraná responde por apenas 5% da produção nacional de flores e plantas ornamentais. É um estado que mais consome do que produz. Mesmo assim, são quase mil propriedades atuando neste mercado, que foi um dos mais impactados pela crise desencadeada pela pandemia.
Luiz Carlos Ferreira, por exemplo, vem lutando contra a crise provocada pela pandemia que levou 70% da sua produção de flores. A venda de crisântemos, principal produto do viveiro, foi péssima no dia das mães, uma data importante para quem trabalha no setor. Mais de 15 mil vasos foram jogados fora pela baixa procura.
Produtores de flores falam de crise por causa da pandemia do coronavírus
Reprodução/RPC
“Em 25 anos de produção de flores nunca passamos por uma situação dessa. Uma pandemia parar o mundo. Então, é difícil a gente assimilar isso com a realidade nossa que era de produzir bastante flor e hoje estar com pouca produção. Caiu bastante o consumo de flores, principalmente em decoração, funerárias. E se diminuiu as vendas a gente tem que diminuir a produção, né?”, explica Luiz.
Das 60 estufas dele, 20 estão desativadas. Dos 35 funcionários, só restaram oito. Cinco mil mudas eram plantadas por semana. Agora, não chega a mil a cada quinze dias.
A situação também está crítica para vários produtores de Uniflor. Quem não está desativando a estufa, está tentando aproveitar o espaço de outra forma. Na propriedade do produtor Antônio Carlos Ferreira, que antes tinha crisântemo, agora com a baixa procura, está tentando substituir a produção com outras espécies para diminuir o prejuízo.
“Para não ficar com as estufas paradas e não dispensar todos os funcionários também, porque a gente acaba ficando com a minoria. E para tentar fazer dinheiro com esse outro tipo de flor”, comenta Antônio.
Uniflor é uma das maiores produtoras de flores do Paraná. Foi responsável pela produção de mais de 5 milhões de unidades no ano passado. Entre as flores cultivadas no município, os crisântemos se destacam. No estado, eles representam 11% da produção de flores ornamentais.
Veja a relação das principais regiões produtoras de flores no estado, em 2019, segundo a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
Mas a queda na comercialização também foi grande quando consideradas todas as espécies cultivadas no estado. Em fevereiro foram comercializadas 57 toneladas de flores no paraná. Em abril, as vendas caíram para 10 toneladas.
Paulo Andrade é o responsável pelo setor de floricultura do Departamento de Economia Rural, da Seab. Ele afirma que o Paraná tem 900 propriedades voltadas à produção de flores. São propriedades pequenas, da agricultura familiar, mas que empregam muita mão de obra.
“No Brasil, ao redor de 210 mil pessoas atuam com floricultura, desde a produção no campo até o atacado e varejo e distribuição para o consumidor final. A gente percebe que, só no varejo, é ao redor de 50% a população envolvida. Então, existem transportadoras, existe toda uma logística no país da comercialização e distribuição deste produto, tendo em vista que o estado vizinho, São Paulo, é o maior produtor nacional e cerca de quatro a cinco municípios respondem por 40% de toda a produção nacional. Isso faz com que, para todo o brasil, haja uma estratégia de distribuição dessas flores e deste grande comércio que muitas vezes passa desapercebido no nosso dia a dia, diz Paulo.
Agora, os produtores apostam no Dia de Finados, uma das melhores datas para o setor. No caso do Antônio, das 25 estufas, 15 estão reservadas à produção desta época.
“A gente tinha uma programação, né, de mil e quinhentos vasos, hoje eu tô com menos de mil, 900 vasos… semanal né?! E para Finados, eu diminuí em torno de 40% a 50% também. É um risco né? A gente perdeu já na safra de Dia dos Pais e Dia das Mães, devido a muitos cemitérios fechados né? E o crisântemo vende muito para cemitérios, resolvi diminuir para não perder mais. Mesmo assim estamos arriscando”, disse.
Já o produtor Luiz tem aproveitado parte dos canteiros para plantar tomates. São 1,8 mil pés. Um dinheiro a mais que vai entrar até que o mercado volte ao normal.
“Produtor gosta de produzir, ideal é que acabasse logo isso pra gente voltar a trabalhar e produzir a beleza do país”, finaliza.
Em Marialva, capital estadual das rosas, a situação dos produtores de flores também não está fácil. Sem eventos, sem festas de casamento e de aniversário e até mesmo com funerais mais modestos, quem vive da produção de flores diz que nunca viveu uma crise tão severa.
Os canteiros vazios mostram que alguma coisa não vai bem no relacionamento do Claudinei Aparecido Zanin com as rosas. Depois de quase dez anos, e algumas crises pontuais, ele diz que nunca viveu um momento tão ruim como agora. Por conta da pandemia do coronavírus, a procura pelas flores murcharam e o jeito foi erradicar boa parte dos canteiros.
“Sem eventos não tem comércio. A gente vai comercializar o quê? Então, a gente ficou sem opção”, diz o agricultor.
O sítio, em Marialva, é arrendado e sem compradores para as rosas que restaram. Claudinei tem que trabalhar como empregado de outros agricultores para pagar as contas.
“Porque eu não consigo manter isso aqui. Só com a produção daqui eu não tô conseguindo. Então, a gente achou outra alternativa de sair trabalhar a diária. No fim de semana, a gente trabalha o que dá para fazer aqui, à tarde a gente chega a vai fazendo. Não tá fácil”, lamenta.
O tempo que ainda lida no sítio, Claudinei passou a dedicar aos crisântemos, geralmente usados em funerais. Só que as vendas de flores para velórios também caíram com a pandemia.
“Eu mudei de cultura, na verdade, mas também não surtiu efeito. Porque eu perdi bastante. Este ano para flor de corte eu acho que já tá perdido”.
Já a Fabiana Gato dos Santos pensa diferente. “Enquanto muitos estão querendo desistir, eu tô querendo continuar. Porque a gente veio para cá com esse foco e não vai ser um vírus que vai fazer a gente desistir. Então, a gente tá lutando, fácil não tá pra ninguém, tá difícil, mas a gente vai continuar nas flores”, garante.
Ela e o marido vieram de Sorocaba, no interior de São Paulo. Compraram um sítio de dois hectares e meio em Marialva para plantar rosas. Tudo ia bem, investiram na construção de estufas, sistema de irrigação. Só que aí veio a pandemia. “Acabaram os eventos, diminuíram as vendas automaticamente. Muitas perdas. Este ano, depois do Dia das Mães, o projeto era ampliar. Fazer nossa casa. No fim deu tudo errado”.
A ideia do casal era construir mais uma estufa ainda este ano. Os planos foram adiados para 2021, porque por enquanto não está sobrando dinheiro nem para o conserto de parte da cobertura que foi levada pelo vento.
“Por enquanto, eu não tenho para gastar. E como os pés não vão morrer se ficarem descobertos, então vou esperar mais uns dois ou três meses para ver como o cenário vai reagir. Na hora que perceber que o negócio vai andar, nós vamos lá e deixamos tudo em ordem de novo”, comenta o marido da Fabiana, Ronaldo Pagani.
A esperança de Fabiana é voltar a vender as três mil dúzias de rosas por mês que vendia antes do coronavírus. Hoje, são apenas 400 dúzias. Como não adianta produzir tanto, os canteiros ao ar livre foram deixados um pouco de lado. O manejo é feito somente nas estufas com a poda controlada para o descarte.
“Se eu não cortar, não vai produzir outra. E eu preciso que esta esteja sempre produzindo. Se eu deixar aqui, começa a juntar bicho. A doença vai entrando na rosa e depois fica difícil de controlar.
E é assim, de flor em flor, que mesmo com os espinhos enfrentados em 2020, Fabiana e Ronaldo continuam apostando na beleza das rosas.
“Desistir é coisa que não está em nossos planos. Porque não há mal que dure para sempre. Então, se tá ruim agora, tem que olhar o horizonte e saber que vai melhorar. E quando melhorar, quem tiver no mercado vai recuperar o prejuízo e ter um lucro para fazer um churrasco ainda”, Ronaldo fala animado.
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By Fred Souza

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