Leonardo Rolim afirmou esperar que os peritos voltem, após nova inspeção em agências. Associação de médicos, no entanto, disse que a chance é ‘zero’. Antes de ir à perícia, INSS aconselha segurado a entrar em contato com o 135 para conferir se houve reagendamento. Uma fila de beneficiários se formou na agência do INSS da Parquelândia, em Fortaleza.
José Leomar/SVM
O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Leonardo Rolim, afirmou nesta quarta-feira (16) que 169 agências estão aptas para retomar as perícias nesta quinta (17). A volta, no entanto, está ameaçada pela recusa dos médicos peritos em retomar os trabalhos. A previsão de retorno era na última segunda-feira, mas os profissionais alegam falta de adequação das agências.
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Em live com José Roberto Sodero Victorio, presidente da Comissão de Direito Previdenciário da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), Rolim disse que foram realizadas conferências nas agências apontadas pelos peritos como inadequadas nesta quarta-feira para que elas pudessem ser reabertas.
“Em algumas realmente faltavam um detalhe ou outro, mas 169 agências com perícia estão aptas a reabrir amanhã. Acreditamos que os peritos voltem amanhã com a determinação do governo”, acrescentou.
Mais cedo, no entanto, a Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP) afirmou que não vai retomar os trabalhos em agências vistoriadas nesta quarta. A entidade diz que “desconhece” as inspeções realizadas nesta quarta, e acusa o INSS de adulterar o checklist de obrigações para a retomada das perícias, “flexibilizando e relativizando itens essenciais como limpeza, segurança, ventilação e equipamentos”. Esse checklist é parte de uma portaria para determinar as novas inspeções nas agências.
“Nós desconhecemos isso como vistoria. Não havia ali nenhum técnico de carreira gabaritado a emitir qualquer juízo de valor sobre os componentes da avaliação. Aquilo foi uma ‘inspeção’ política, visita de chefes a uma agência”, afirma Francisco Cardoso, vice-presidente da ANMP. “A chance (de retomar as perícias na quinta-feira)é zero. A essa hora não dá mais para organizar a lista de vistoria. O INSS não nos forneceu nada”, diz Cardoso.
O INSS informou que, antes de ir à perícia, o segurado deve entrar em contato com o 135 para conferir se houve reagendamento. Além disso, pode entrar no site covid.inss.gov.br para checar se a agência está aberta e se realmente está realizando o serviço de perícia médica.
De acordo com o INSS, 600 mil pessoas tiveram o pedido de antecipação negado após a pandemia e aguardam uma nova perícia. O novo prazo para agendamento de perícia — que era de, em média, 15 dias — não foi informado pela autarquia.
Visitas no DF
O INSS reabriu as agências na segunda-feira (14) após cinco meses fechadas por conta da pandemia de Covid-19. Mas o serviço de perícia médica, um dos principais, não foi retomado. As perícias são necessárias para permitir que trabalhadores recebam auxílio, retornem ao trabalho ou consigam a aposentadoria. Segundo os cálculos do INSS, cerca de sete mil pessoas podem ter sido prejudicadas na segunda-feira.
Após INSS anunciar retomada de perícias, associação de médicos diz que chance é ‘zero’
A reabertura das agências sem o serviço de perícias causou uma onda de filas e reclamações pelo país entre segunda e terça-feira, e congestionamento nos canais de atendimento digitais e telefônico do INSS.
A suspensão das perícias está relacionada a uma queda de braço entre instituto e os médicos peritos.
Os profissionais dizem que o INSS não adaptou as agências para que o serviço seja feito em segurança em meio à pandemia. O instituto diz que os profissionais estão reivindicando melhorias que não têm relação com prevenção da doença.
O vice-presidente da Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP), Francisco Cardoso, afirma que não há como separar “problema relacionado à Covid-19” dos demais “problemas antigos”, pois as agências apresentaram problemas de ventilação adequada, infraestrutura de higiene – como falta de pias, de sabão, de latas de lixo e de limpeza adequada — e sem segurança na entrada.
Pagamento de benefícios
Mesmo com as agências fechadas por quase seis meses, o INSS continuou a pagar benefícios que precisam de perícia médica. De janeiro a julho deste ano, foram pagos R$ 46,3 bilhões para os beneficiários de aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e auxílio-acidente. Esse valor é 14,4% maior que o pago nos mesmos meses de 2019 (total de R$ 40,5 bilhões).
Já o número de benefícios concedidos teve queda de 4,6% — de 35,8 milhões para 34,2 milhões.
O levantamento foi feito pelo G1 nos boletins estatísticos da Previdência Social e incluem auxílio-doença e aposentadoria por invalidez previdenciário – não ligado a acidente ou doença do trabalho – e acidentário, que tem relação com acidente ou doença do trabalho; além do auxílio-acidente, benefício concedido quando a doença ocupacional ou acidente de trabalho deixam sequelas que reduzem a capacidade laboral.
Houve queda nos valores pagos apenas no auxílio-doença nos primeiros sete meses do ano em relação a 2019. A maior foi no acidentário, redução de quase 14%. Já o previdenciário teve redução de 5,1% no mesmo período.
Os demais benefícios tiveram aumento nos valores pagos. Os maiores incrementos foram no auxílio-acidente (22,7%) e na aposentadoria por invalidez previdenciária (22,2%).