A pauta da saúde mental deixou de ser um tabu corporativo para ocupar um espaço central nas estratégias de negócios. E não é por acaso. Os desafios emocionais vividos dentro das empresas custam caro em afastamentos, em baixa produtividade, em dificuldade de retenção de talentos e, principalmente, em ambientes tóxicos onde ninguém consegue dar o seu melhor. Afinal, o adoecimento psicológico causa um dos recursos mais preciosos das empresas: o capital humano.
O Brasil registrou, só em 2024, quase meio milhão de afastamentos por transtornos mentais, segundo o Ministério da Previdência Social. É o maior número da última década. Não se trata de uma estatística isolada, pois reflete um cenário mais amplo, onde a pressão por performance e a ausência de gestão das emoções caminham lado a lado. Diante disso, a entrada em vigor da nova NR-1, sinaliza um novo momento que exige das empresas a identificação e mitigação de riscos psicossociais.
Apesar das multas previstas pela norma só começarem a valer em 2026, a exigência já está posta e as empresas que entenderem a importância dessa virada terão tempo para se preparar com profundidade. Mais do que cumprir uma obrigação, o adiamento da fiscalização e das penalidades da NR-1 representa uma chance real de repensar a forma como cuidamos das pessoas dentro das organizações. O cuidado emocional precisa sair do discurso e ser sentido no dia a dia, nos rituais de liderança, nas reuniões, nos feedbacks e na forma como o colaborador é ouvido ou ignorado.
Considero que a gestão da emoção um dos pilares do Método MAC, que desenvolvi para apoiar escritórios de advocacia a se reestruturarem, não diz respeito a “ser bonzinho”, mas a entender que toda decisão, inclusive a financeira, passa por um componente emocional. Já conheci líderes que prefeririam acumular funções a dizer “não”, e acabaram adoecendo. Em outros casos, a falta de conversas francas sobre prazos levava o time a aceitar demandas em sequência, sem espaço para respiro até que os primeiros sintomas de burnout começaram a aparecer. A emoção está em tudo: na maneira como negociamos, como priorizamos ou como lidamos com a pressão.
Por isso, a verdadeira virada acontece quando o líder passa a se conhecer de verdade. Quando entende seus gatilhos, suas reações automáticas e aprende a responder com estratégia, não com impulso. O gestor emocionalmente preparado é aquele que sabe acolher a si mesmo e aos outros. Ele se torna uma liderança capaz de ter firmeza sem ser agressivo, que escuta antes de julgar, que sustenta decisões difíceis sem perder a humanidade no processo.
O problema é que muitos gestores chegaram a esses cargos pelo desempenho técnico, e não pela capacidade de lidar com pessoas. Isso é especialmente comum em setores como o jurídico, onde o conhecimento é valorizado, mas a escuta empática e a gestão emocional nem sempre foram desenvolvidas. Em um escritório de advocacia, por exemplo, é comum que os sócios fundadores estejam sobrecarregados, tentando manter a operação e, ao mesmo tempo, cuidar de uma equipe crescente. Sem preparo emocional, o risco de estafa, conflitos internos e queda de desempenho é enorme.
A boa notícia é que essa mudança é possível e começa com a decisão de olhar para dentro. Precisamos compreender que liderança é, sim, sobre resultados, mas também sobre relações, integrando gestão do tempo, da emoção e das finanças. Porque não existe sustentabilidade no negócio sem sustentabilidade no ser humano.
Temos uma janela rara para agir com consciência e estratégia até maio de 2026, quando as empresas que negligenciarem os riscos psicossociais serão efetivamente multadas. Quem aproveitar esse momento para formar lideranças mais conscientes, que saibam conduzir seus times com clareza, humanidade e estrutura, vai colher os frutos não só em números, mas em um ambiente mais saudável, produtivo e alinhado com o futuro do trabalho.
*Beatriz Machnick é contadora, especialista em Controladoria e Finanças, mestre em Governança e Sustentabilidade. Sócio fundadora da BM Consultoria em Precificação e Finanças.
BM Finance Group – Desde 2012 o grupo atua como protagonista na formação de preços para escritórios de advocacia de todos os estados do Brasil. A CEO Beatriz Machnick é autora de uma tríade de livros de gestão na área: Gestão Financeira na Advocacia – Teoria e Prática (2020), Valorização dos Honorários Advocatícios – O Fortalecimento da Advocacia através da Gestão (2016) e Honorários Advocatícios – Diretrizes e Estratégias na Formação de Preços para Consultivo e Contencioso (2014/2024). Atualmente, a empresa tem a matriz em Curitiba e duas filiais: uma no Rio de Janeiro e outra em Nova Iorque. Contatos com a BM Finance Group podem ser feitos pelo telefone (041) 9 9192-4263 ou pelo site www.financasjuridicas.com.br.
Rafaela Tavares (41) 98455-3810 [email protected]