O que o candidato pode encontrar ao tentar voltar ao mercado de trabalho? Veja como se preparar


Profissionais que se mantenham atualizados e sejam capazes de trazer soluções criativas e buscar novas habilidades, mesmo em meio a um cenário de incertezas, saem na frente. Habilidades não técnicas como engajamento e adaptação são cada vez mais valorizadas
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A pandemia afetou o mercado de trabalho e fez crescer o desemprego. Quem se manteve no trabalho se viu em uma nova rotina, seja na forma de trabalhar, com a implantação do home office ou o uso de máscaras, como no aumento da demanda. Além disso, os empregadores estão valorizando mais as chamadas soft skills – competências não técnicas que incluem, por exemplo, capacidade de lidar com problemas, ter influência e empatia, ser criativo e se adaptar a novos desafios.
Segundo especialistas em carreiras, as empresas que sobreviveram em meio à pandemia tiveram de acelerar a implementação de mudanças, e esse cenário deve se manter assim. Por isso, profissionais que se mantenham atualizados e sejam capazes de trazer soluções criativas, buscando novas habilidades, de forma produtiva e com motivação, mesmo em meio a um cenário de incertezas, saem na frente.
O profissional deve ainda sair da zona de conforto, procurando áreas nas quais precisa de qualificação, além de novas oportunidades dentro da própria empresa, como assumir novos clientes ou projetos para aprender novas habilidades. E, se ainda se sente desconfortável para lidar com a tecnologia, é recomendado aprender novos programas, plataformas e sistemas para criar familiaridade com esses recursos.
“Mais do que nunca, é preciso ser protagonista de sua vida profissional. É importante que busque saber de forma clara o que é esperado dele, como metas, prazos e atitudes. Ele deve manter contato constante com sua liderança e colegas de trabalho, além de se sentir engajado com a empresa. Atitude proativa será um enorme diferencial nas questões de desempenho e relacionamento”, prevê Maria Luiza Nascimento, diretora de recursos humanos da Randstad.
Veja abaixo a opinião e dicas de Hugo Capobianco, especialista em carreira na LHH; Celson Hupfer, CEO da plataforma de recrutamento digital Connekt; e Maria Luiza Nascimento, diretora de recursos humanos da Randstad, em relação às novas tendências do mercado:
Salário menor do que ganhava. Vale a pena aceitar?
Celson Hupfer: O candidato que perdeu o emprego durante a pandemia e agora quer retornar provavelmente terá que lidar com a perspectiva de uma redução maior no seu salário do que em épocas anteriores. Em qualquer período, um candidato desempregado que busca emprego precisa estar preparado para uma redução salarial. O que acontece agora é que essa redução pode ser maior porque as empresas estão mais descapitalizadas e, por isso, tenderão a reduzir seus custos com pessoas. Além disso, o candidato deve estar preparado para receber ofertas de redução de benefícios e de regimes de contratação mais precários, como freelancer, intermitência, meio período, pessoa jurídica etc. Mas o candidato também deve manter um comportamento transparente com quem o contrata, questionando quando necessário sobre as perspectivas futuras na empresa para ele.
Hugo Capobianco: No contexto de um processo seletivo, a questão salarial é sem dúvida um dos pontos importantes para serem observados. Porém, há outras informações que devem ser analisadas e consideradas para uma decisão, como o próprio desafio em que o profissional estará inserido, novos aprendizados e conhecimentos que contribuirão para a carreira dele, possibilidade de maiores interações com pessoas de áreas ou segmentos diferentes, entre outros. Portanto, salário menor não significa desqualificação.
Maria Luiza Nascimento: É importante que o profissional avalie não somente o pacote de remuneração, mas também o que realizará. Às vezes, vale muito a pena aceitar redução salarial em prol de um trabalho que irá adicionar experiência, conhecimento, novos relacionamentos profissionais e outros benefícios em sua carreira.
Exigência de habilidades técnicas que ele não adquiriu na carreira. O que fazer?
Hugo Capobianco: Sempre é o momento de fazer reflexão a respeito de suas competências técnicas e comportamentais em alinhamento ao que o mercado está demandando no momento ou poderá demandar no futuro, por isso, estar atento a esse movimento e buscar constantemente atualizações permite que o profissional esteja mais competitivo na sua área e mercado de trabalho. Fique atento e faça a diferença.
Maria Luiza Nascimento: A continuidade no processo de aprendizagem continua sendo muito importante. “Aprender a aprender” é algo que garante a empregabilidade de qualquer profissional, de qualquer área. O mundo muda constantemente e de forma muito rápida. Reserve tempo para se atualizar, estudar, ler, participar de seminários, workshops, cursos e tudo o que pode agregar conhecimento para o dia a dia e para o currículo. Atualmente existem muitas opções de desenvolvimento profissional online que podem ser facilmente acessados e com baixo custo.
Celson Hupfer: O mundo ainda não mudou tanto para que o candidato necessite de habilidades técnicas tão diferentes do passado. Mas os candidatos estão diante de uma oportunidade sem precedentes hoje. Em função da pandemia, muitas plataformas de educação têm oferecido inúmeros cursos para ajudar as pessoas a se desenvolver. Talvez esteja aí a oportunidade de melhorar o seu currículo.
Atividades adicionais que o candidato não exercia quando estava empregado. Como correr atrás do prejuízo?
Hugo Capobianco: Hoje, mesmo no cenário de pandemia, há infinitas possibilidades de cursos online, tanto aqui no país quanto no exterior, e buscar esses recursos estando ou não trabalhando permitirá maior qualificação e desenvolvimento profissional. Não deixe de avaliar constantemente possibilidades de novos conhecimentos.
Maria Luiza Nascimento: Com a redução de posições, é natural que um profissional assuma responsabilidade por mais processos dentro da empresa. Ele deve fazer isso com muito otimismo e dedicação, pois se trata de oportunidade de aprendizagem, além de contribuir com a empresa.
Habilidades sociais e emocionais que antes não eram tão valorizadas. Como aprimorar?
Hugo Capobianco: Já faz alguns anos que somos avaliados em processos seletivos em um contexto mais amplo: social, emocional, comportamental, entre outros. E estar conectado com atividades sociais pode fazer diferença no momento de se lançar no mercado. Faça algo que esteja alinhado ao seu propósito e não por ser “moda”. Procure construir sua marca pessoal envolvendo todos os aspectos do ser humano (técnico, comportamental, social, emocional) e se lance no que a vida pode lhe dar.
Celson Hupfer: O que eu chamo de atitude ética e que outros podem chamar de empatia é uma das principais habilidades sociais do momento. É fundamental que o colaborador perceba melhor o outro, cliente ou colaborador. É recomendado que os profissionais de todas as áreas se atentem mais às competências psicológicas e humanizem as relações dentro do trabalho. Passamos por um período de distanciamento muito grande e precisamos dos laços, mesmo nas empresas. É preciso atentar-se à felicidade da equipe, com o engajamento e desenvolvimento das pessoas. Por outro lado, também é indicado desenvolver a inteligência emocional, a empatia, o afeto no trabalho e a rede de conexões.
Maria Luiza Nascimento: O trabalho em home office fez com que todos os profissionais aprendessem a trabalhar mais sozinhos fisicamente, mas conectados de alguma maneira. Atualmente, existem várias ferramentas que permitem conexão imediata. Com isso, mesmo fisicamente distantes, é possível fazer reuniões, tomar um café virtual e outras atividades que os aproximem. Todo profissional deve se esforçar para que essas conexões aconteçam, garantindo contato com os colegas, equipes e gestores. Ser protagonista nesses momentos é muito importante.
Seleções de emprego e ambiente de trabalho mais competitivos e com pessoas mais jovens que ele. O que fazer?
Hugo Capobianco: Ambientes competitivos não são necessariamente tóxicos. Pelo contrário, podem nos tirar da zona de conforto e obrigar a nos desenvolver tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Em processos seletivos, essa competição pode se tornar mais visível, afinal, todos estão desejando a vaga. Pense que todos têm uma contribuição a dar, sejam mais jovens ou mais maduros que você, portanto, tenha o sentimento agregador e construtivo e procure somar e não dividir.
Celson Hupfer: Além dos processos seletivos com mais candidatos (nos últimos meses, na Connekt, observamos que para vagas em que se conseguia no máximo 100 ou 150 inscritos, hoje é comum mais de 500 inscritos), os candidatos deverão estar preparados para processos muitas vezes 100% virtuais, sem nenhum contato pessoal. É preciso se organizar para fazer boas jornadas virtuais, entrevistas digitais com conteúdo. Buscar habilidades e competências, ter uma boa comunicação, estar preparado. Até porque muitas pessoas poderão estar vencidas pelo cansaço, justamente agora que é preciso perseverar.
Maria Luiza Nascimento: Todo profissional tem uma competência que pode ser oferecida para a empresa e que possa contribuir com os colegas de trabalho. Seja a experiência de um perfil mais sênior ou a criatividade de um perfil mais jovem, por exemplo. As empresas devem saber combinar esses atributos para um trabalho mais assertivo e benéfico também para os colaboradores, que têm a chance e devem estar abertos a aprender uns com os outros. Buscar estabelecer conexões que possam gerar mútuo aprendizado é muito importante.
Valorização de capacidades como trabalho em equipe, atualização constante para se manter no mercado e flexibilidade para se adaptar às constantes mudanças pelas quais as empresas estão passando num cenário cada vez mais competitivo. O que fazer nesse cenário?
Celson Hupfer: As capacidades como trabalho em equipe, auto-atualização, flexibilidade e resiliência são competências que já vinham sendo requeridas dos candidatos. Mais do que “know how”, é necessário “know why” e “know who” (ou seja, não apenas saber como as coisas são feitas, mas por que estão sendo feitas e a quem recorrer para adquirir conhecimentos). Além disso, é importante ter pensamento estratégico, saber as consequências de suas ações, opiniões e produtos, uma visão mais geral, que chamo de ver a floresta mais do que apenas as árvores. E desenvolver as competências “auto”: auto-desenvolvimento, auto-gestão, auto-disciplina e auto-análise.
Há tempos que não é mais possível deixar a empresa pensar no nosso desenvolvimento profissional e de carreira. Isso está nas mãos do trabalhador. Essas competências ficaram ainda mais importantes com a pandemia e vão ficar aí por um longo tempo. Além disso, um ambiente que pede uma atitude ética diferente também requer o desenvolvimento de habilidades relacionais.
Hugo Capobianco: É importante estar atento ao seu modo de ver e sentir as coisas dentro desse contexto apresentado, pois ele é real e seguramente o profissional que souber lidar melhor com isso terá mais sucesso nessa empreitada. Avalie o quanto você está distante ou não de ter algumas competências que hoje são consideradas chaves no cenário corporativo. São elas: resiliência, gestão de pessoas (para os líderes) e gestão da mudança.
Maria Luiza Nascimento: O cenário mundial segue em constante mudança, provocando em todos os profissionais uma atitude protagonista. O profissional deve buscar atualização de forma contínua e rotineira, como um hábito de vida. Cuidar da saúde também é fundamental para suportar e se adaptar mais facilmente às mudanças.
Assista à live Agora é Assim? sobre trabalho pós-pandemia:

By Fred Souza

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