O poder do celibato: por que ficar só não tem que ser ruim


Você pode enxergar apenas a falta de companhia ou abraçar a independência e o que ela traz de bom De acordo com o dicionário, celibato é um antônimo de casamento. Não ter par ainda produz um ranço de estigma em nossa sociedade – mas será que isso é tão ruim? Começando pelo sexo, a pandemia tem ensinado boas lições nesse quesito. São tantos aplicativos de encontros que sair em busca de companhia, mesmo que resulte apenas em sexo casual, se tornou quase uma obrigação. É como se houvesse uma pressão contínua para que todos sejam sexualmente ativos e estejam no encalço de experiências inesquecíveis, quando nem sempre é o que acontece ou o que se deseja.
Celibato: é possível estar só e de bem consigo mesma
Akyurt por Pixabay
Um período de abstinência pode tornar as pessoas mais felizes simplesmente pelo fato de conseguirem dar um tempo para si mesmas. Para seus desejos. Para suas necessidades. Enquanto alguns casais confinados têm passado por momentos difíceis por causa do excesso de convivência, quem está só tem a chance de se descobrir uma ótima companhia para si mesmo. As mulheres, principalmente, tendem a acolher as preferências de seus namorados, “encaixando-se” no gosto alheio sem pensar duas vezes. Nada como uma quarentena para se vestir do jeito que quiser, comer o que der na telha (faço votos que sejam alimentos saudáveis!), sem se preocupar se as escolhas vão agradar ao outro. A receita também se aplica a eles. Com frequência os homens se veem em relacionamentos que não lhes trazem satisfação, onde não há troca, e, muitas vezes, o sexo sem compromisso e com grande número de parceiros ou parceiras esconde dificuldade com a intimidade.
Uma das pioneiras a tratar do assunto foi a psicóloga Lynn Shahan, que se tornou uma autora best-seller na década de 1980 ao escrever “Living along & liking it” (“Vivendo só e gostando disso”). Na época, chamou sua atenção o percentual significativo de adultos que viviam sozinhos, situação que só se ampliou. A questão, que já apontava na ocasião, é não se prender ao estado civil. Você pode enxergar apenas a falta de um parceiro ou parceira – e aí a felicidade ficará sempre além do seu alcance. Mas abraçar a independência e o que ela traz de bom se transforma numa conquista.
Barbara Feldon, a eterna agente 99 e que hoje tem 87 anos, foi outra que se aventurou no tema. Em 2002, lançou “Living alone & loving it” (“Vivendo sozinha e amando isso”), onde prega que o melhor é investir na autoestima, sem depender de admiradores de fora, desenvolver a criatividade e não se tornar prisioneira de pensamentos negativos. Respeitando a quarentena, uma amiga me pergunta: “será que algum dia vou voltar a namorar? Acho até que já perdi o jeito”, avalia. Eu a lembro que o relacionamento que havia rompido, um mês antes de o novo coronavírus acabar com a vida social tal como a conhecíamos, era do tipo morno-quase-frio. Aposto que sim, que voltará a namorar, mas tenho certeza de que seu nível de exigência em relação a um eventual parceiro terá subido alguns graus.

By Fred Souza

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