MP-PR denuncia quatro PMs por envolvimento na morte de dois jovens e dois adolescentes, em Curitiba


Durante ação, que ocorreu em setembro de 2019, houve perseguição e capotamento; segundo os peritos, os policiais dispararam 36 vezes. Câmera de segurança registrou o caso. Ministério Público denuncia policiais militares envolvidos na morte de quatro jovens
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou quatro policiais militares por envolvimento na morte de dois jovens e de dois adolescentes, depois de uma perseguição no bairro Hauer, em Curitiba.
De acordo com a denúncia, os PMs dispararam contra as vítimas, sem que elas pudessem se defender.
Nas imagens de câmera de segurança, obtidas com exclusividade pela RPC, é possível ver um carro, em alta velocidade, avançar uma preferencial, bater e capotar. Logo atrás, aparece uma viatura do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e ocorre uma sequência de tiros. Os quatro ocupantes do carro foram mortos.
Os quatro policiais militares foram denunciados por homicídio qualificado, por dificultar a defesa das vítimas.
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) afirmou que o tenente Igor Deliberador Budne e os soldados Eduardo Henrique Arbigaus, Helton Lacerda e Luiz Fernando Sokoloski atiraram contra os quatro suspeitos que estavam no carro, dois deles menores de idade.
Uma câmera de segurança registrou a ação
Reprodução/RPC
Disparos
A situação que ocasionou nas mortes foi no dia 27 de setembro do ano passado. Os policiais, em patrulha, identificaram um carro com alerta de roubo, em que estavam as vítimas.
Depois do acidente, os policiais dispararam 36 vezes, de acordo com peritos, e os quatro suspeitos morreram.
A perícia diz que, dentro do carro, havia um revólver e um cartucho disparado. O laudo também aponta que o carro, em que estavam os jovens, foi atingido por nove tiros, todos vindos de fora para dentro.
Outro perito examinou as imagens e confirmou que os rapazes cruzaram a preferencial e que, depois do capotamento, os PMs atiraram, mas que a baixa definição da imagem dificultou a contagem dos disparos.
O perito diz que um dos jovens sai do carro abaixado, e um dos policiais se aproxima e dispara. Em outro trecho da imagem, o perito diz que aparentemente um dos jovens está sentado fora do carro e, após a passagem de um policial, cai no chão.
Um dos suspeitos está sentado fora do carro e, após a passagem de um policial, cai no chão
Reprodução/RPC
O Ministério Público identificou os dois policiais que se aproximaram do carro, depois da primeira sequência de tiros e que, segundo a perícia, atiraram novamente contra dois dos suspeitos.
Para os dois policiais, Igor Budne e Luiz Fernando Sokoloski, os promotores pedem a suspensão, de forma cautelar, do exercício da função pública, alegando que eles, “de forma contrária às expectativas da função do policial militar e da formação recebida, ao invés de proteger a sociedade, colocaram-na em risco”.
Na denúncia, os promotores afirmam que não ignoram “os riscos da atividade policial, especialmente em uma sociedade tão violenta como a brasileira”, nem que o crime foi o “desfecho de uma perseguição a um veículo com alerta de roubo”, mas que “policial militar tem formação específica para agir em situação de estresse e perigo”.
Para o MP, os dois policiais “materializaram a banalização da violência policial que assola o país”.
MP afirma que “de forma contrária às expectativas da função do policial militar, ao invés de proteger a sociedade, colocaram-na em risco”
Reprodução/RPC
O Ministério Público apresentou a denúncia, pedindo a condenação dos quatro PMs por homicídio, em julgamento pelo Tribunal do Júri.
Em crimes dolosos contra à vida, como neste caso, policiais militares são julgados pela Justiça comum.
O que dizem os citados
Por meio de nota, a defesa dos quatro policiais denunciados afirmou “que a equipe policial preservou a vida de inocentes quando revidou disparos dos perigosos marginais que atacaram a guarnição”.
O Bope informou, em nota, que os jovens mortos possuíam antecedentes criminais, que o carro onde estavam era roubado e que um deles foi reconhecido por uma testemunha como autor do furto.
Além disso, segundo o Bope, o motorista desobedeceu as ordens de parada dos policiais militares, avançou por diversas preferenciais e furou sinais vermelhos, oferecendo risco a pedestres e outros motoristas.
O batalhão disse ainda que está à disposição para esclarecer os fatos e que o inquérito policial militar já foi finalizado e enviado à Justiça Militar Estadual, e que a investigação não constata ilegalidade na atitude dos policiais.
Veja mais notícias do estado no G1 Paraná.

By Fred Souza

Veja Também