‘Mesmo com medo, não negou a fé’, lamentou a irmã do médico que morreu no Paraná por complicações da Covid-19


Lucas Pires Augusto tinha 32 anos e atuava como neurocirurgião em Ivaiporã. Ele foi internado no dia 20 de julho e no dia 27 postou uma mensagem dizendo que estava sendo levado para a UTI. Ele morreu no sábado (8) . Gabriela era a irmã mais velha do neurocirugião Lucas Pires
Arquivo Pessoal/Gabriela Pires
Foram 32 anos de muito estudo e de planos para ajudar pacientes no Brasil e de outros países atuando como neurocirurgião. A irmã do médico Lucas Pires Augusto, que foi infectado pelo novo coronavírus e fez um post emocionante em uma rede social antes de ser encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), conta que o irmão demonstrou que era um homem de força e muita fé.
“O Lucas era uma pessoa incrível, a pessoa mais inteligente que conheci na vida. Ele viveu muito, tinha pressa por tudo. A vida dele foi de muita felicidade, deu muito orgulho para todos. Mesmo com medo, não negou a fé. Ele acreditou no Deus até o fim”, contou Gabriela Pires Augusto Pinto.
Pai de duas crianças, Benjamin e Isabella, não resistiu e morreu pela doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) no sábado (8), no Hospital Maringá, na região norte do Paraná.
“Peguei essa doença fazendo o que amo, cuidando dos meus pacientes com amor e dedicação. Faria tudo outra vez”, afirmou o médico em um trecho do post.
Neurocirurgião, Pires atuava na linha de frente de combate ao coronavírus no Instituto de Saúde Bom Jesus, em Ivaiporã, também na região norte do estado.
Gabriela conta que na última mensagem que recebeu do irmão, ele pediu que ela não desistisse dele.
“Parecia, de certa forma, que ele estava se despedindo. Lutamos muito junto com os amigos e médicos para ele ser curado”, diz.
“Esse vírus é muito traiçoeiro, ele nunca tinha sido internado, não tinha nenhuma doença associada. Ele lutou pela vida até o último minuto. Isso tudo foi muito assustador pra gente”, se emocionou.
Médico Lucas Augusto desabafou em uma rede social antes de ser internado na UTI
Reprodução/Facebook
Futuro da medicina
Lucas Pires nasceu no Rio de Janeiro, mas muito pequeno foi morar com a família em Cataguases, em Minas Gerais. Foi aluno de escola pública e, segundo a família, sempre se destacou pela inteligência.
Em todas as universidades para as quais prestou vestibular para medicina foi aprovado, mas escolheu a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para realizar o curso.
Em 2013 se formou no Paraná e logo depois se mudou para Ribeirão Preto onde fez a residência em neurocirurgia pela Universidade de São Paulo (USP).
Em 2018, Lucas integrou a equipe que separou, em 2018, as gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, que nasceram unidas pela cabeça.
A cirurgia foi realizada em cinco etapas, envolvendo especialistas norte-americanos e uma equipe multidisciplinar do Hospital das Clínicas da USP, em Ribeirão Preto (SP), e foi comandada pelo professor e neurocirurgião Hélio Rubens Machado.
Lucas e o médico James Goodrich após cirurgia em São Paulo. Os dois morreram por complicações da Covid-19.
Arquivo pessoal
À época, o médico americano James Goodrich foi um dos coordenadores da equipe. Em março deste ano, ele morreu em Nova Iorque por complicações da Covid-19.
Gabriela conta que o irmão, que já tinha sido aceito para atuar como médico nos Estados Unidos, ficou muito abalado quando soube da morte do colega americano.
Cuidados
Lucas Pires era neurocirurgião e morreu vítima de Covid-19 no Paraná
Arquivo pessoal
Desde o início da pandemia, Lucas e a família estavam cautelosos e faziam de tudo para se proteger. Foi por causa do número de casos de Covid-19 que ele precisou adiar os planos de se mudar para os Estados Unidos e decidiu se estabelecer , junto com a esposa e os dois filhos, no norte do Paraná.
Em maio, o médico começou a atender pacientes em um hospital de Ivaiporã. A família conta que foi em um desses atendimentos que ele se infectou. Uma paciente estava com a doença, mas só soube dias depois da consulta sobre o diagnóstico positivo.
“Ele tinha a vida inteira pela frente. Não atendia muitos pacientes com Covid, mas quando atendia era muito cauteloso. Quando soube do resultado dessa paciente, fez o teste que deu negativo. Dias depois, ao sentir o primeiro sintoma já foi para o hospital onde ficou internado”, detalhou Gabriela.
Lucas foi internado no dia 20 de julho em um hospital de Maringá e no dia 27 foi levado para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Antes de ser transferido, ele deixou a mensagem em uma rede social e mandou recados para a família. No sábado (8), o médico não resistiu e morreu.
“A minha família estava isolada desde março, não viemos nem quando nasceu a filha mais nova dele. Ele estava na linha de frente, se cuidava. Foi muito triste ver o meu pai enterrando o filho dele no domingo do Dia dos Pais”, contou.
Gabriela espera que a mensagem deixada pelo irmão mais novo dias antes de morrer possa conscientizar as pessoas sobre os riscos do novo coronavírus.
“Se pelo menos as pessoas lerem o que ele escreveu e se conscientizaram, a morte dele vai ter tido algum sentido. Se tiver a escolha de se proteger, fique em casa”, concluiu.
Neurocirurgião foi internado no dia 20 de julho com diagnóstico de Covid-19
Arquivo pessoal
Número no Paraná
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (Sesa) atualizados neste domingo (9), o Paraná tem 88.978 casos confirmados do novo coronavírus e 2.319 mortes.
O relatório apontou 75 novas mortes e 1.063 diagnósticos a mais da doença, em relação aos dados de sexta-feira (7).
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By Fred Souza

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