Em dez anos, brasileiro reduz consumo de arroz e feijão e aumenta o de adoçante e açaí, aponta IBGE


Levantamento realizado entre 2017 e 2018 mostra piora na qualidade da alimentação no Brasil, com queda na frequência de ingestão de frutas e a alta na de alimentos ultra processados, como pizzas. Adoçante foi o item com maior aumento. Itens básicos da culinária brasileira, arroz e feijão tiveram queda no consumo diários entre os domicílios do país
Reprodução/Jornal Nacional
A alimentação do brasileiro perdeu qualidade nutricional. É o que sugerem os dados divulgados nesta sexta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o consumo alimentar no Brasil. Em uma década, caiu o consumo de produtos relevantes da mesa brasileira, como arroz e feijão, enquanto aumentou a frequência de ingestão de alimentos processados e ultra processados, como pizzas, salgadinhos e adoçante.
O levantamento foi realizado entre 2017 e 2018 por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Foram realizadas entrevistas em 57,9 mil domicílios, sendo que 20,1 mil pessoas foram selecionadas para responder ao bloco de consumo alimentar em duas entrevistas. De acordo com o IBGE, quem respondeu a essa parte do questionário precisou registrar todos os alimentos consumidos, com suas respectivas quantidades, durante 24 horas.
“Nossa alimentação ainda é baseada no feijão, arroz e carne, e isso é positivo, mas temos que melhorar o consumo de frutas e legumes e diminuir o açúcar e o sódio em excesso”, apontou o gerente da pesquisa, André Martins.
Considerando a ingestão calórica diária, variou pouco a quantidade de calorias ingeridas pelos brasileiros quando comparado com a pesquisa anterior, realizada dez anos antes, entre 2008 e 2009 – em torno de 1,9 mil kcal por dia. Entre os grupos etários, no entanto, aumentou a quantidade de calorias ingeridas pelas pessoas com idade entre 19 e 59 anos – passou de 1969 kcal em 2009 para 2022 em 2018.
Do total de calorias consumidas por dia, entre 2017 e 2018, 53,4% eram provenientes de alimentos in natura ou minimamente processados, 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultraprocessados. Na pesquisa anterior, entre 2008 e 2009, o IBGE não levantou estes dados, o que não permite comparar se houve mudança na origem calórica dos alimentos consumidos.
O IBGE destacou, porém, que “os indivíduos que relataram o consumo de sucos, pizza e sanduíches, doces, biscoito doce, frios e embutidos e bebidas com adição de açúcar [processados e ultraprocessados] apresentaram médias de ingestão de energia de 10% ou mais acima da média populacional. Por outro lado, a ingestão média de energia dos indivíduos que consumiram arroz integral e biscoito salgado foi menor que a média populacional”.
Todavia, ao se observar a frequência de consumo diário dos alimentos, o IBGE identificou que, no geral, o brasileiro reduziu o consumo de item básicos da culinária do país, como o arroz e feijão, assim como o de frutas e demais vegetais, enquanto aumentou a frequência de ingestão de alimentos processados e ultraprocessados, como sanduíches, salgadinhos e pizzas.
Mudanças à mesa
De acordo com a pesquisa, entre 2017 e 2018, em 75,3% dos domicílios houve consumo diário de arroz, enquanto o feijão esteve presente na mesa de 59,9% dos lares. Dez anos antes, estes percentuais eram de, respectivamente, 84,1% e 73% – uma queda de 10 pontos percentuais (p.p.) do consumo diário de arroz e de 18 p.p. de feijão.
No mesmo período, caiu em 12 p.p. o consumo diário de ovos, em 21 p.p. de pão de sal (pão francês), em 22 p.p. de carne bovina, em 38 p.p. de tomate (comum ‘vilão da inflação’ do país) e em 50 p.p. de leite integral. Dentre as frutas, caiu em 24 p.p. a ingestão de melancia, 30 p.p. de abacaxi e 40 p.p. de laranja.
Em contrapartida, nestes dez anos aumentou em 11 p.p. o consumo diário de aves, 21 p.p. de pizzas, 33 p.p. de outras carnes, 35 p.p. de salada crua, 38 p.p. de salgadinhos tipo chips, 58 p.p. de sanduíches, 52 p.p. de feijão de corda ou verde, 68 p.p. de carne suína e 86 p.p. de açaí.
O item que teve o maior aumento na frequência diária de consumo foi o adoçante, cuja presença na mesa brasileira teve alta de 9,1 mil p.p. em dez anos – passou de 0,1% dos domicílios para 9,2% entre 2009 e 2018.
Pesquisa mostra mudanças nos hábitos de consumo alimentar do brasileiro
Arte/G1
Batata por batata
Ainda observando a frequência diária de consumo, foi possível notar que o brasileiro parece ter substituído a batata-inglesa pela batata-doce. A primeira teve queda de 31 p.p. entre os domicílios do país, enquanto a segunda teve alta de 109 p.p..
Outro tubérculo também considerado, ao contrário da batata-inglesa, de baixo índice glicêmico, que teve alta no consumo foi a mandioca, que passou de 2,8% dos domicílios para 3,6% – uma alta de 29 p.p..
Também aumentou em 20 p.p. o consumo de oleaginosas, como as castanhas, e de 21 p.p. de óleos e gorduras diversas.

By Fred Souza

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