Curado de Covid duas semanas antes, Flavio Bolsonaro quis faltar a acareação por motivo de saúde

Procurador rejeitou pedido. Acareação entre senador e empresário sobre suposto vazamento de operação da PF estava marcada para esta segunda no Rio. Flavio Bolsonaro estava em Manaus. Flavio Bolsonaro alegou Covid-19 para não participar de acareação
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) não compareceu a uma acareação prevista para esta segunda-feira (21) no Rio de Janeiro alegando motivos de agenda. Mas antes tentou faltar por motivos de saúde, sem apresentar atestado médico e mesmo curado da Covid-19 duas semanas antes da acareação.
Na acareação, o senador ficaria frente a frente com o empresário Paulo Marinho. Um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018, Paulo Marinho disse ao jornal “Folha de S.Paulo” que Flávio Bolsonaro, filho do presidente, foi avisado com antecedência por um delegado da Polícia Federal sobre a deflagração da Operação Furna da Onça. O senador nega. A operação resultou na prisão de diversos parlamentares do estado do Rio em novembro de 2018.
A TV Globo teve acesso à decisão do procurador do caso, Eduardo Benones, que rejeitou o pedido de Flávio Bolsonaro para faltar à acareação.
No despacho, de 3 de setembro, o procurador reproduz o pedido de Flávio Bolsonaro: “Que a data de 21/09/2020, com comparecimento presencial, na sede do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, seria temerária em razão de o requerente ter contraído infecção pelo Sars-CoV-2; em virtude da prerrogativa prevista no artigo 221 do Código de Processo Penal para os senadores, estaria impedido de tomar parte na acareação, a fim de que a saúde dos circunstantes fosse resguardada”.
Em 6 de setembro, 14 dias antes da acareação, Flavio Bolsonaro anunciou em redes sociais que estava curado da Covid-19, doença transmitida pelo novo coronavírus.
O procurador recusou o pedido e justificou: “Admitir a não realização de ato investigatório futuro sob a mera alegação de impossibilidade de comparecimento por motivo de saúde não contemporânea seria perfilhar a prevaricação”.
Flávio Bolsonaro não comparece à acareação com o empresário Paulo Marinho
Nesta segunda-feira, data marcada para o depoimento, Flavio Bolsonaro argumentou que tinha compromissos oficiais no Amazonas e pediu remarcação para 5 de outubro. Pouco depois das 15h, horário previsto para a acareação, o senador divulgou em rede social foto com um apresentador de TV em Manaus. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra ele, o irmão e deputado federal Eduardo Bolsonaro e a equipe do programa dançando e cantando em coro uma música crítica a “maconheiros”.
Flavio Bolsonaro pediu ainda para depor no gabinete dele, no Senado, sem filmagem, mas o procurador também negou.
Sobre a acareação no gabinete, Benones disse que rejeitou o pedido para “evitar que o local de realização do ato se torne, por si só, um elemento anímico autônomo de intimidação e coação, que pode comprometer os objetivos primordiais de esclarecimento dos fatos”.
Ele afirmou que não fazer o registro em vídeo da acareação, outro pedido, é algo que não caberia ao senador decidir.
“Não se trata, à luz da legislação processual penal, de uma faculdade ou prerrogativa do requerente autorizar ou não a gravação audiovisual de seu depoimento em sede de investigação de infrações penais de iniciativa pública, mas de uma determinação legal condicionada à disponibilidade técnica”, disse no despacho.

By Fred Souza

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