Cortes na Embrapa criam dilema para captação de recursos, avaliam ex-presidentes


Dos 922 projetos em andamento, 126 recebem dinheiro da iniciativa privada. Ex-dirigentes apontam venda de tecnologia e eficiência como caminhos para a empresa de pesquisa. A Embrapa é a principal empresa de pesquisa agropecuária do país, e, mesmo assim, nem ela foi poupada dos recentes cortes promovidos pelo governo federal. Desta vez, foram R$ 119 milhões bloqueados do orçamento da instituição.
Atualmente, a Embrapa tem 922 projetos de pesquisa em andamento e, desse total, só 126 recebem dinheiro de empresas, gerando R$ 23,5 milhões.
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Eliseu Roberto de Andrade Alves, um dos fundadores da empresa, explica que, em alguns casos, não é possível arrecadar dinheiro privado para a pesquisa. “Ocorre que têm determinadas áreas em que ela (empresa privada) teria que fazer o investimento sem retorno”, afirma.
“A Embrapa funciona como uma locomotiva limpa-trilhos. Ela vai na frente, abraçando projetos de alto risco, que, normalmente, não são priorizados pelo setor privado. Então, cabe à pesquisa pública abraçar os desafios. Por isso que nós precisamos contar com o orçamento público”, explica Maurício Lopes, que comandou a instituição de 2012 até 2018.
Laboratório de pesquisa da Embrapa em Juiz de Fora (MG)
Embrapa/Divulgação
Diante deste cenário, Murilo Flores, que presidiu a Embrapa entre 1990 e 1995, afirma não ser possível repor os cortes no orçamento da empresa contando apenas com apoio do setor privado.
“É uma falácia achar que a atual Embrapa vai captar recursos para substituir esse violento corte. Não vai.”
Caminhos possíveis
Eliseu diz que o caminho talvez seja a redução do número de projetos e de unidades, tornando a empresa mais eficiente. Ou seja, “fazer mais com menos”.
“Ela tem que ser eficiente, competente e mostrar para a opinião pública que o futuro do agronegócio do Brasil depende, em parte, dos resultados das pesquisas da Embrapa”, acrescenta.
“A ideia seria criar um braço da Embrapa que fosse mais estruturado para vender tecnologias. Isso é algo que talvez tenhamos que pensar para o futuro, para que a empresa possa lidar com situações difíceis como essa”, propõe Maurício.
Por fim, Murilo reforça que a empresa tem um papel estratégico para que o agronegócio seja competitivo. “Nenhum país do mundo pode prescindir de uma estrutura pública de pesquisa como temos na Embrapa.”
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By Fred Souza

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