Bancos estudam veto de crédito a criador em área de desmatamento ilegal

Maiores instituições financeiras do Brasil buscam modelo para rastreamento da cadeia de produção de gado e defendem ações da Amazônia como política de Estado. Carta de cientistas mostra como incêndios na Amazônia colocam em risco a saúde
Os grandes bancos privados brasileiros estudam como rastrear a produção de gado para assegurar que não financiem empresas cuja cadeia tenha por trás o desmatamento ilegal da Amazônia, disse o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher.
O Conselho Consultivo Amazônia – criado por Itaú, Bradesco e Santander para discutir e elaborar medidas voltadas à região – vai ajudar as instituições a encontrar esse modelo de rastreamento, segundo o executivo.
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“Mas estamos em trabalho de aprendizado. Não estamos em posição de dar aula para ninguém sobre a Amazônia”, disse Bracher. O executivo participou, nesta sexta-feira, de entrevista ao vivo ao jornal “O Globo”, ao lado dos presidentes do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., e do Santander, Sérgio Rial.
Candido Bracher, do Itau Unibanco, diz que os representantes dos bancos estão em fase de aprendizado em relação à Amazônia
De acordo com eles, controlar os grandes frigoríficos é relativamente mais fácil, já houve conversas com as maiores empresas do setor e elas manifestaram intenção de colaborar. “Por isso, nossa preocupação é com a cadeia. Essa rastreabilidade do bezerro até chegar ao garfo do consumidor, nós vamos precisar fazer”, afirmou Lazari.
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O presidente do Bradesco disse que o banco tem um “pente muito fino” em relação a notícias, crimes e sentenças a respeito de quem desmata e, nesses casos, pedidos de crédito nem chegam a ser analisados. Rial acrescentou que o setor de proteína animal poderia aprender com o setor de soja, no qual, anos atrás, as grandes tradings se uniram para atuar “de forma responsável”. “Não resolveu tudo, mas hoje os consumidores têm maior conforto sobre o processo de produção de soja no Brasil”, disse.
Para o presidente do Santander, a Amazônia é o “grande regulador da possibilidade de o Brasil continuar sendo uma potência no agro, e não é na sua destruição que a gente melhora essa possibilidade”. Segundo Bracher, a proteção do meio ambiente hoje é “componente indispensável” do comportamento ético, mas também uma necessidade econômica, de negócios.
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Política de Estado
Rial afirmou que a Amazônia não deveria ser uma questão de governo, mas de Estado. “Se o teto dos gastos é uma política de Estado, qual é a política de Estado em relação à Amazônia?”, questionou..
Os três evitaram fazer críticas diretas ao governo, embora tenham deixado claro que o controle do desmatamento esteja deixando a desejar. “Tenho dificuldades de julgar intenções e frases, eu julgo resultados, e os resultados são muito ruins”, disse Bracher. Para o presidente do Itaú, é preciso ajudar o governo e a sociedade a melhorar muito os índices de desmatamento.
Lazari evitou fazer críticas ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, dizendo que as discussões não devem ser resumidas a pessoas em si, mas ao que precisa ser feito. Na visão dele, a maioria das pessoas envolvidas com a questão é bem intencionada e quer o bem da região. “A melhor coisa que a gente pode querer é que não tenha mais discussão sobre o desmatamento, porque é natural que não tenha e as pessoas assim o exigem”, disse.
O presidente do Santander afirmou que o vice-presidente Hamilton Mourão se mostrou disposto a ouvir sobre a questão fundiária e parece dar o sinal necessário para a congregação entre vozes diferentes. Para Rial, a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, também tem peso importante nas discussões pela interlocução que tem com o agronegócio.
O executivo disse ainda que a Amazônia não envolve apenas a esfera federal, mas também as estaduais e municipais da região, o que aumenta a complexidade.

By Fred Souza

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