Alessandro Oliveira, substituto de Dallagnol na Lava Jato, evita comentar problemas com Aras: ‘Relação estritamente profissional’


Procurador diz acreditar que pedido de correção de rota não virá por parte da PGR. MPF comunicou troca no comando da força-tarefa em Curitiba nesta terça-feira (1º). Escolhido para assumir a coordenação da Operação Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Alessandro Oliveira disse que pretende manter uma relação “estritamente profissional” com o procurador-geral da República, Augusto Aras.
Em entrevista à RPC, Oliveira evitou comentar atritos da força-tarefa com Aras e afirmou desconhecer as razões e o contexto que levaram o procurador-geral da República a dizer que seria necessário “corrigir os rumos” para que “lavajatismo não perdure”.
Alessandro Oliveira irá assumir o cargo do procurador da República Deltan Dallagnol. O Ministério Público Federal (MPF) confirmou a troca nesta terça-feira (1º).
Assim como Deltan, Oliveira afirmou que não houve pressão externa ou da Procuradoria-Geral da República para a troca na coordenação da Lava Jato no Paraná.
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Integrando o grupo de trabalho da força-tarefa desde 2018, Oliveira disse acreditar que um pedido de correção de rota na Operação Lava Jato não virá devido à independência do Ministério Público Federal.
O procurador também afirmou que críticas e opiniões sobre a Operação Lava Jato fazem parte de um processo natural de reação, que às vezes tenta buscar equívocos ou contradições internas.
“A nossa ideia é uma atuação técnica, tentando verificar se existem correções a serem feitas. Que elas sejam feitas através do processo interno de autorreflexão. Afora isso, debate de criticas que eu considero até criticas por mero fundamento eventualmente politico-partidário ou mera reação de receio, conforme a origem que vem esse tipo de insinuação ou desgaste, acho que isso mais reforça que a Lava Jato está no caminho certo do que ela aponta para um caminho a ser corrigido”.
Alessandro Oliveira substituirá Deltan Dallagnol na coordenação da Lava Jato em Curitiba
Reprodução/RPC
’70 vezes 700′
Alessandro Oliveira disse que quer dar continuidade ao trabalho “que está dando certo” e que é impossível prever o fim da Lava Jato.
“A sua finalização é algo definitivamente impossível de ser previsto. Mas me parece que ainda há um grande potencial, um fôlego para mais 70 vezes 700 fases na Operação Lava Jato. Vontade para isso não me falta.”
Sobre o novo cargo, Oliveira afirmou que deve ser o trabalho mais relevante e ruidoso da própria carreira.
“O potencial de complexidade da operação é inquestionável, já atuei em dezenas de outras operações, a maioria delas de combate à corrupção. Mas enfim, a envergadura da Lava Jato é mundial, e potencialmente eu acredito que seja o maior desafio da minha carreira”, disse.
Biografia
Alessandro José Fernandes de Oliveira está no Grupo de Trabalho da Operação Lava Jato desde 2018. O novo coordenador da força-tarefa se tornou procurador da República em 2004, atuando no Paraná desde 2012.
Oliveira gradou-se em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Estado do Paraná, em 1993, e em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2002. Ele também concluiu mestrado em Relações Sociais pela UFPR.
Dentro do MPF, o procurador já ocupou os cargos de conselheiro no Conselho Penitenciário do Paraná, de coordenador da Rede de Controle da Gestão Pública e de procurador Regional Eleitoral do estado.
Além disso, Oliveira também integra grupos de trabalho de Medidas Cautelares Reais, na 2ª e 5ª Câmaras de Coordenação e Revisão Criminal e de Combate à Corrupção, segundo o MPF.
Saída de Dallagnol
O Ministério Público Federal (MPF) informou nesta terça-feira que o coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Deltan Dallagnol, vai deixar a força-tarefa.
Deltan Dallagnol disse em um vídeo postado na internet que a filha dele, de 1 ano e 10 meses, apresentou sinais de regressão no desenvolvimento. Por este motivo, o procurador afirmou que precisa dedicar mais tempo a ela.
“Depois de anos de dedicação intensa à Lava Jato, eu acredito que agora é hora de me dedicar de modo especial pra minha família.”, afirmou Deltan.
Coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol deixa a força-tarefa
Deltan Dallagnol assinou diversas denúncias da Operação Lava Jato contra empresários e políticos. Entre elas, estão denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Sob a liderança de Dallagnol, a força-tarefa denunciou 543 pessoas em 217 acusações criminais, de acordo com o MPF. Ao todo, 166 pessoas foram condenadas pela Justiça nos processos.
Deltan Dallagnol em palestra no VII Congresso de Direito Constitucional, em Santo André
Danilo M. Yoshioka/Futura Press/Estadão Conteúdo
Dallagnol afirmou que, apesar de deixar a força-tarefa, ele continua trabalhando como procurador no MPF.
“Eu vou continuar trabalhando como procurador da República, mas aquelas horas extras que eu investi em noites, finais de semana e feriados, eu vou precisar agora focar na minha família”, afirmou.
Deltan Dallagnol vai deixar a força-tarefa da Lava Jato
Processos disciplinares
Deltan Dallagnol tem dois processos disciplinares abertos contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e que estão suspensos.
Na segunda-feira (31), a Advocacia-Geral da União (AGU) argumentou junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) que há o risco de prescrição de um processo disciplinar aberto no CNMP contra Deltan Dallagnol.
Um processo prescreve quando se esgota o período previsto em lei durante o qual pode haver alguma sanção.
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De acordo com a AGU, o processo que discute se Deltan Dallagnol cometeu infração disciplinar por ter supostamente tentado interferir na disputa à presidência do Senado, com postagens contra o senador Renan Calheiros (MDB-AL), deve prescrever no dia 10 de setembro.
O ministro Celso de Mello havia suspendido a tramitação do processo, porque entendeu que existiam problemas na tramitação do processo no conselho e ressaltou que membros do MP têm liberdade de expressão.
O outro processo, também suspenso por Mello, trata-se de um pedido de remoção apresentado pela senadora Kátia Abreu (PP-TO).
Nesse processo, a senadora afirmou que Deltan Dallagnol já foi alvo de 16 reclamações disciplinares no conselho, deu palestras remuneradas e firmou um acordo com a Petrobras para que R$ 2,5 bilhões recuperados fossem direcionados para uma fundação da Lava Jato.
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By Fred Souza

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